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sábado, 5 de setembro de 2009

Átomo Quebrado

Acordou-se naquele sábado indiferente ao dia que de fato era, como se fosse qualquer outro dia da semana, pois todos eram-lhe vãos agora. Revirou-se algumas dezenas de vezes na cama, oscilando entre a esquerda e a direita, o travesseiro ou o próprio colchão. Tinha preguiça de abrir os olhos, de levantar, de ser alguém naquele dia de data não sabida, porém as costas e os ombros doíam-lhe e suspirava profundo como se estivesse exausto de um trabalho braçal. Na realidade não fazia nada há alguns dias a não ser servir de carniça para os urubus do ócio e do tédio, e por 'nada' entende-se o conceito do senso comum em vez dos conceitos filosóficos que só mais afligem que resolvem os problemas: a ausência de qualquer coisa.
Já sentado na poltrona tosca da sala de espera da vida isenta de revistas interessantes, uma porção de ligações sinápticas o incomodavam, martelando-lhe o encéfalo e lhe escapando aos ossos do crânio, martelando-lhes de dentro para fora como quem foi enterrado vivo. Afligia-se com os pensamentos resultantes do vácuo atemporal do ócio, mesmo conseguindo considerar que muitos deles não faziam sentido, contudo todos o amedrontavam e desintegravam toda e qualquer libido que pudesse ter, empurrando-lhe numa queda-livre nos ares da agonia.
Jiló é algodão-doce perto da tristeza, mas sabia que embora forçado a engoli-la mais tarde obteria êxito em regurgitá-la e que o porvir aniquilaria suas pequenas questões destrutivas como um átomo quebrado.
O porvir parecia jamais vir, ninguém chamava na sala de espera e os urubus o circundavam de olhos arregalados e bicos podres de bisturis.

2 comentários:

Lara Medeiros disse...

Gostei muito de "Jiló é algodão-doce perto da tristeza..."

=)*

u n h a n u a disse...

Isso aqui já esteve melhor,quando as aspirações e inspirações eram outras.