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terça-feira, 11 de março de 2008

Estátuas

A velha mendiga velha,
Pousada no canto da rua,
Parece uma estátua feia e sem graça
Que ninguém percebe a existência,
Mas pela qual o mundo passa.


Parece uma estátua cemiterial,
Com cara triste de tragédia grega,
Simples, ofusca e discreta.
De tristeza tão sincera
Que nem engana o carnaval.


É, pelo menos, melhor
Que a estátua, da praça, pichada,
E mais sortuda que a de Drummond
(da praia de Copacabana)
Que não escapou, foi assaltada.


Não é estátua-viva
(E nem por isso é morta),
Antes fosse, que às vivas
O povo joga dinheiro.
Vai simplesmente passando
Ignorada o dia inteiro.


Tudo estaria perfeito
Se fosse somente uma estátua
Das muitas que o tempo consome.
Mas a perfeição vai embora,
Que esta estátua não é de pedra,
É doente, suja e tem fome.


Lalo Oliveira.



6 comentários:

Pétala Rubra disse...

Como é difícil fazer as palavras terem outro aspecto daquele que normalmente elas têm... e como é que você consegue fazer isso sempre? rsrsrsrs

Lindo poema.
Um beijooooo =)

Only feelings disse...

Muito bonito.
:****

Mariana disse...

Perfeito.

Sempre sinto um aperto no coração quando vejo essas cenas na rua.

E ah, retribuindo seu comentário em um dos meus posts, acho que você como psicólogo, seria um grande escritor. ;)

Feänor disse...

O final do seu poema é como um tapa na cara da sociedade...

Mesmo os que se supõe altruístas só se ocupam mesmo de desejos egoístas consistentes em limpar sua própria consciência. São poucos os que realmente possuem um desejo real de ajudar. A maioria só quer mesmo esquecer os "párias" que, curiosamente, nós mesmos criamos com esse capitalismo selvagem e predatório e essa gana consumista que nos - perdão pela repetição - nos consome.

Mas talvez eu seja um hipócrita... Afinal, não faço nada para melhorar a situação...

Todos temos nossa parcela de culpa nesse crime que a humanidade cometeu.

Denise Machado disse...

Respondi seu comentário nada amistoso no meu blog.

Everaldo Ygor disse...

Olá...
Sempre bom passar por aqui...
A construção da obra é perfeita, mas os nossos dias não...
Poema de intensidade alta, contestador - faz a gente refletir sobre "os outros" - quem são eles?
Talvez um espelho quebrado de nós mesmos...
Ótimo!
Abraços
Everaldo Ygor
http://outrasandancas.blogspot.com/