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sexta-feira, 3 de julho de 2009

O Animal

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No meio da praça olha o mundo:
As grandes invenções, as construções bárbaras,
As descobertas novíssimas, as artes genuínas,
Os grandes feitos, os grandes homens,
Os cheques grandes em bolsos pequenos.

Mas olha somente um lado:
O lado burguês, industrializado, midiático,
O lado materialista e desenvolvido
Da praticidade, da tecnologia, da acomodação,
Do não-fazer.

Alguém mostre o sertão ao animal
Ou uma criança africana desnutrida!

E ele, estático, não sabe para onde vai,
Sequer traça um caminho,
Não sabe se ri ou chora
No meio de sua praça particular.

O animal tudo vê, nada faz.
Vai existindo, somente.

Basta somente existir?
Para quê? Para quem?

Pergunta-se o animal angustiado
No auge de seus vinte anos
Em meio a muitos outros animais
Que também se limitam a existir
Fora da engrenagem do mundo,
Em suas pequenas interações sociais passageiras.

5 comentários:

Ana Karenina disse...

Sim, é preciso ser mais.
Somos insuficientes na maioria do tempo, para o mundo e para nós mesmos.

Ingrid B. Montenegro disse...

"E ele, estático, não sabe para onde vai,
Sequer traça um caminho,
Não sabe se ri ou chora
No meio de sua praça particular."

genial essa parte :)

parece triste e, tal como todo poema triste, tocante.

Lalo Oliveira disse...

Sim, Marcos, conheço e gosto de Bandeira, inclusive dessa poesia, que é uma das poucas que sei de cor, mas ela não tem muito a ver com a minha, pois esta é de cunho lírico enquanto aquela, social. =D

Thaysa Cordeiro disse...

a realidade somente possui existência para nós quando é nomeada, quanto mais sabemos mais temos a saber.

É triste, queremos ser explicáveis num mundo tão inexplicavel... =/

acho que não somos só seres existindo, nem animais, nem culpados pela fome, sei lá, é uma porcaria procurar culpados enquanto pessoas morrem e outras se matam.

Everaldo Ygor disse...

O animal existe, e grita também, sua poesia narra o grito - angustia social das linhas...
Saudações
Everaldo Ygor