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No meio da praça olha o mundo:
As grandes invenções, as construções bárbaras,
As descobertas novíssimas, as artes genuínas,
Os grandes feitos, os grandes homens,
Os cheques grandes em bolsos pequenos.
Mas olha somente um lado:
O lado burguês, industrializado, midiático,
O lado materialista e desenvolvido
Da praticidade, da tecnologia, da acomodação,
Do não-fazer.
Alguém mostre o sertão ao animal
Ou uma criança africana desnutrida!
E ele, estático, não sabe para onde vai,
Sequer traça um caminho,
Não sabe se ri ou chora
No meio de sua praça particular.
O animal tudo vê, nada faz.
Vai existindo, somente.
Basta somente existir?
Para quê? Para quem?
Pergunta-se o animal angustiado
No auge de seus vinte anos
Em meio a muitos outros animais
Que também se limitam a existir
Fora da engrenagem do mundo,
Em suas pequenas interações sociais passageiras.
5 comentários:
Sim, é preciso ser mais.
Somos insuficientes na maioria do tempo, para o mundo e para nós mesmos.
"E ele, estático, não sabe para onde vai,
Sequer traça um caminho,
Não sabe se ri ou chora
No meio de sua praça particular."
genial essa parte :)
parece triste e, tal como todo poema triste, tocante.
Sim, Marcos, conheço e gosto de Bandeira, inclusive dessa poesia, que é uma das poucas que sei de cor, mas ela não tem muito a ver com a minha, pois esta é de cunho lírico enquanto aquela, social. =D
a realidade somente possui existência para nós quando é nomeada, quanto mais sabemos mais temos a saber.
É triste, queremos ser explicáveis num mundo tão inexplicavel... =/
acho que não somos só seres existindo, nem animais, nem culpados pela fome, sei lá, é uma porcaria procurar culpados enquanto pessoas morrem e outras se matam.
O animal existe, e grita também, sua poesia narra o grito - angustia social das linhas...
Saudações
Everaldo Ygor
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