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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Poeses em prosa

(Texto do amigo Yerick Douglas, uma singela homenagem. Compartilho com vocês)

Vai, poeta.
Escreve qualquer coisa que possa desabrochar teus mais sofredores sentimentos em um pedaço de papel, permitindo que a dor vá embora e reste somente o alívio que te consome. Pergunta para o próximo se ele tem compaixão com teus sentimentos, se ele carece saber quais as mulheres que tu amou, ou que tu deixastes de amar.
Pega um livro de piadas e uma cachaça.
Depois ri da própria desgraça.
Não tenho pena de ti, poeta. Pena no homem é o sentimento mais feio. Antes de tudo, possuo um apreço sem igual pela tua arte. Aliás, se soubesse fazer poesia, com certeza esse texto estaria dessa forma. Entre versos e estrofes.
Mas não. As formas de se expressar são tantas que prefiro manusear a prosa. A bela de linhas e parágrafos. Entretanto, eu te invejo, poeta. És capaz de expressar tuas mágoas de forma fantástica, deixando claro que a sede de paixões é maior do que as adversidades que se enfrentam para conseguir os êxitos.
E foram nas noites de dormências, enquanto falávamos das sereias que conduziam as marés das nossas vidas que pude observar o quão fascinante é o sentimento humano. Odiar a primeira vista e passar a apreciar na segunda. Pois a poesia parte o coração viril, e mesmo que o amor açoite, após o dia vem o outro dia, e o outro dia. E os sentimentos continuam os mesmos, como se de nada tivesse adiantado escrever.
Compartilho do mesmo destino. Não acredite que só porque faço coisas lógicas não possa sentir o terror que atormenta a alma e explode o coração. A nuvem negra forma a tempestade e faz nossos corações baterem mais fortes por pessoas que não merecem absolutamente nenhuma compaixão.
As pessoas, poeta, são como estrelas cadentes. Rapidamente surgem e desaparecem, deixando somente o rastro de fogo de sua cauda, queimando e marcando nossas vidas, nossa história.
Como se eu fosse filósofo, duvido. Duvido muito que sejamos capazes de superar terminantemente essa eterna condição. Algo semelhante a uma maldição, que nos deixa em prantos, que transbordam de nossos olhos.
No entanto, penso que antes de escrever é necessário refletir. Talvez não sejamos nós os verdadeiros culpados por essa condição, por esse vil estágio de sofrimento, de falsas esperanças.
Basta.
Quero pisar no resto do cigarro, vingar-me da minha destruição. Quero aproveitar cada ínfimo momento da minha vida, perigar em lugares escondidos, tornar-me ébrio.
E depois, são.
Diz-se que os momentos passam, que as experiências são os frutos da sabedoria, da consciência. Então, amigo, pois para que tanta preocupação? Da forma que falastes, viverei o prazer sem limites; deixando de lado essa miserável dor, cuspirei frente às emoções e aos seus consequentes.
Não irei fazer um texto que sangre e suje o papel, poeta. Mais do que isso, farei um onde possa gargalhar frente aos problemas que temos, e que superamos. Mesmo que eu possa ter alguém que amo e que não queira que ela saiba. Mesmo que a lua brilhe lá no alto, enquanto embaixo estivermos aflitos.
Chega.
Irei tornar-me um revolucionário da minha própria vida. Tomar o controle, o poder, e só então eu vejo o que vou fazer.
Mas, por enquanto.
Seremos dissimulados, de boa aparência e saudáveis. Tragar uísques nas mais variadas mesas de mármore e aproveitar aquilo que nos resta.
Que nos deixa felizes, e ébrios.
Um abraço.


Yerick Douglas 03/11/2010

Dedicado a Layrtthon Oliveira.

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